sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Plasticidade cerebral

Aprecio a capacidade de comunicação de quem faz com que seja possível compreender facilmente temas que envolvem conceitos difíceis e muito técnicos.
Claro que isto supõe um sólido domínio sobre o tema, mas também capacidade imaginativa e gosto por transmitir conhecimento.
Estes dois pequenos vídeos são disso exemplo.

O primeiro ilustra o conceito de «neuroplasticidade».

O segundo mostra como a plasticidade cerebral pode estar, nos dias de hoje, em vias de nos transformar...
Como se diz no texto de apresentação do video (realizado no âmbito de um projeto da BBC):

«Está preocupado se os aparelhos eletrónicos - computadores, videojogos e smartfones - estão a reconectar o seu cérebro? Talvez deva; porque certamente estão. Mas significarão estas mudanças gerações afetadas por transtornos da atenção e fracas aptidões sociais ou aumentarão a criatividade?»
Por acaso, penso que a alternativa talvez não seja a melhor forma de colocar a questão... Talvez em vez da disjunção fosse melhor colocar a conjunção...

A redação do video é da responsabilidade do filósofo britânico Nigel Warburton (de quem ainda havemos de falar...)

Video 1


Video 2

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Descartes para principiantes

Filosofia para principiantes, é este o título de um pequeno livro que procura cativar para a filosofia, apresentando-a de forma ilustrada e divertida. No entanto, hoje em dia, a maioria dos jovens anda bastante arredada dos livros. A facilidade com que se encontra informação na net, sob a forma de texto ou sob a forma de imagem, mais ou menos rigorosa, é uma tentação irresistível. E também os livros vagueiam pela rede, embora perdidos, sem autor, prontos a serem agarrados aos bocados, sem dono que os reclame. Parece que foi o que aconteceu com uma das páginas do livro de Richard Osborne, Filosofia para principiantes, editado em Portugal pela Presença.


Explico-me melhor. Numa destas aulas, o R.S. e o R.M. realizaram uma atividade com os colegas, em que propuseram uma ordenação de um conjunto de imagens, de acordo com a explicação que tinham dado relativamente ao percurso cartesiano da dúvida ao cogito. As imagens eram divertidas e a atividade foi realizada com êxito. Pergunta que não pode faltar... de onde foram retiradas as imagens?
Resposta: da net. A net, o Grande Autor!!!!
Ficaram de trazer exatamente a referência do site. Entretanto, foram-se-me clareando as ideias. Talvez sob a boa influência cartesiana!
Isso mesmo! As imagens têm origem neste livrinho de Osborne. Aqui estão elas, no seu sítio original!
Num livro de papel, claro!! Digitalizado, pois...


OSBORNE, Richard, Filosofia para Principiantes, Lisboa, Presença,1997, pp.80-81




sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Andar devagar ou a correr?


Vamos continuar com o §1 do Discurso do Método de Descartes

«(...) Os que não andam senão muito lentamente podem avançar muito mais, se seguem sempre o caminho direito, que os que correm e dele se afastam».

Isto de andar devagar no caminho certo ser melhor do que andar a correr pelo caminho errado, parece-me bem visto. No entanto, devagar ou a correr, acertar no caminho é que é difícil.

Mas clarifiquemos:
1. Se o objetivo é chegar ao conhecimento, o problema parece ter uma resolução relativamente fácil e parece reinar o acordo. Aqui, o método parece ser indispensável. Para conseguir avançar no conhecimento, em qualquer circunstância, a chave parecer estar nesta palavra, MÉTODO (palavra que significa etimologicamente «caminho para»).
2. Se o objetivo é o de viver a vida, o de cada um viver a sua vida, o problema parece bem mais difícil. Talvez a única coisa acertada e de bom senso seja a de pensar um pouco sobre esse assunto. E continuar sempre a andar, mas sem correrias desnecessárias. E quanto a este caminho, é impossível não referir o poeta castelhano António Machado (1875-1939)...


Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar

Creio que todos entendemos esta bela língua castelhana tão próxima de nós. No entanto, traduzo:

Caminhante, são tuas pégadas 
o caminho, e nada mais;
Caminhante, não há caminho,
faz-se o caminho a andar 


Acerca do bom senso

(imagem retirada de http://financialphilosopher.typepad.com/thefinancialphilosopher/rene-descartes-father-of-modern-philosophy.html)


Ora vejamos como o filósofo René Descartes (1596-1650) inicia o seu Discurso do Método (1637):

«O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída (...). O poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se chama o bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos os homens. (...) Porque não basta ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem.

Falando de bom senso... Parecem-me afirmações muito sensatas e ajustadas. E aparentemente de grande simplicidade. 
Ora vejamos:
1. Todos os homens têm o poder de distinguir o verdadeiro do falso. 
2. O poder de distinguir o verdadeiro do falso é igual em todos os homens.
3. Ter um determinado poder não implica aplicá-lo bem.

A partir desta última proposição é que começam os problemas!!! Como aplicar bem a razão? Como pensar e agir com sensatez? Mesmo lendo com muita atenção o Discurso do Método, onde Descartes muito gentilmente partilha com o leitor o modo como aplicou o seu poder e orientou a sua vida, estas dificuldades parecem permanecer...
Como as notícias nos telejornais diários nos fazem questão de mostrar, e não só...