Texto da responsabilidade da aluna Sofia Pereira do 10º ano, Turma A
Existirá
realmente livre arbítrio nas nossas ações?
Libertismo,
enquanto resposta ao problema do livre arbítrio
O libertismo é a teoria filosófica que afirma que as ações resultam
de deliberações racionais, podendo alterar o percurso dos acontecimentos.
Baseia-se assim
na causalidade do agente, segundo a qual se considera que o ser humano pode
escolher e agir livremente de acordo com a escolha que faz, podendo até decidir
fazer algo e depois mudar de ideias, tal como refere Theodore Sider: «A
mesmíssima pessoa em circunstâncias exatamente semelhantes pode, por
causalidade do agente, causar coisas diferentes».1 Assim, a
causalidade do agente trata-se de uma causalidade livre, já que a mente, por
não ser uma entidade física, não está sujeita à causalidade natural que vigora
no mundo da natureza.
Uma das
principais objeções a esta teoria filosófica consiste no facto da física ainda
não ter provado que os fenómenos mentais não têm leis próprias. A verdade é que
acreditamos que a liberdade é um facto da experiência.
Para além disto,
a experiência interior da liberdade contribui para a crença humana no
livre-arbítrio: experiências introspetivas, como questionar-nos Será que esta foi a melhor escolha?, e o
processo de deliberação (que antecede uma decisão) dão-nos a certeza de que as
ações são livremente escolhidas.
Ora, o libertismo entende que
existe uma clara diferença entre ação e acontecimento, salientando-se que, em
relação aos acontecimentos, estes não dependem da vontade do agente, que não os
pode escolher. Em relação às ações, estas são voluntárias, conscientes e
intencionais, por isso dependem apenas da vontade e da forma como o agente
responde a esses acontecimentos. Para ilustrar
este argumento, podemos seguir o exemplo de Savater: «Primeiro: não
somos livres de escolher o que nos acontece (ter nascido certo dia, ter certos
pais, em tal país, sofrer de um cancro ou ser atropelado por um carro, ser
bonito ou feio) mas somos livres de responder desta ou daquela maneira ao que
nos acontece (obedecer ou revoltar-nos, ser prudentes ou temerários, vingativos
ou resignados, vestir-nos de acordo com a moda ou disfarça-nos de urso das
cavernas.»2. Portanto, podemos estar condicionados de diversas
formas (condicionantes físico-biológicas ou histórico-culturais) e não podemos
fugir a determinados acontecimentos, mas isso não nega o nosso livre-arbítrio.
Na verdade,
acreditar no livre-arbítrio é seguir um modelo de responsabilização do homem
pelas suas ações. Tendo o ser humano à partida uma série de opções e escolhas
ao seu dispor e sendo ele livre para fazer essas escolhas, o mesmo deverá ser
responsabilizado por elas. Assim, o conceito de liberdade está intimamente
relacionado com o de responsabilidade moral. Sem ela, não seria possível
construir a vida em sociedade e o Homem seria colocado ao nível das coisas
comuns que o rodeiam, como um cão ou uma caneta.
Porém, vivendo
os humanos num mundo regido pela causalidade das leis da natureza, como pode
existir o livre arbítrio? A resposta é simples: o livre arbítrio é uma
consequência do comportamento humano transcendente às leis da natureza, por
isso a ciência «nunca conseguirá prever completamente o comportamento humano»1.
Concluindo,
tendo em conta os argumentos que apresentei, é-me impossível pensar na
possibilidade de sermos predeterminados. Dito isto, não posso deixar de pensar
no que seria do mundo se fosse verdade que todas as nossas ações são resultado
de causas extrínsecas ao nosso controlo…teria cabimento fazermos juízos morais?
Faria sentido idolatrar Nelson Mandela ou odiar Hitler pelos seus atos, que
afinal de contas agiram segundo determinação? Viver num mundo assim, era viver
num mundo onde toda a humanidade é retirada ao Homem.